Acordes de emoção: Filha toca sanfona para o pai internado em cuidados paliativos no Hospital Metropolitano
A tarde desta terça-feira (17) foi marcada por muita emoção no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, pertencente à rede estadual de saúde e gerenciado pela Fundação Paraibana de Gestão em Saúde (PB Saúde). Aos 91 anos, o sanfoneiro Antônio Pereira da Silva, de Princesa Isabel, internado na enfermaria clínica e assistido pela equipe de cuidados paliativos, recebeu uma homenagem que atravessou o tempo e a memória: a filha Maria Antônia levou uma sanfona para tocar para ele.
Antônio, que sempre gostou de brincar com a própria história, dizia que “não tocava bem”, mas que os amigos e vizinhos garantiam o contrário. Sanfoneiro de pequenos forrós e encontros simples, ele deixou sua marca em quem o conheceu. Nos últimos dias, mesmo com o estado de saúde delicado, em momentos de delírio, relembrou passagens da vida, contava suas histórias de músico e reforçava sua ligação com a sanfona.
Maria Antônia, inspirada pelo pai, começou recentemente a aprender o instrumento.
“Quando ele teve alta da última vez, eu peguei a sanfona com ele e disse que quando voltasse às aulas ele também ia me ensinar. Ele começou a me ensinar, e mesmo eu sem saber direito, toquei um pouquinho. Ele me elogiou, disse que eu tinha jeito. Falei que ia acreditar, já que era ele quem estava dizendo”, relembrou a filha.
Antes da visita, Maria fez questão de limpar o instrumento, retirando adesivos antigos que o próprio Antônio havia colocado há mais de 15 anos.
“Mesmo sem saber tocar direito, eu queria fazer essa ‘zoadinha’ para ele, pois pela situação que meu pai está, trazer a sanfona foi muito importante e ele gostou”, completou.
De acordo com a médica paliativista do Hospital Metropolitano, Dra. Ana Carla Porto, que acompanha o caso, cada gesto de afeto tem um impacto profundo no bem-estar do paciente e da família.
“O paciente encontra-se internado na enfermaria clínica, recebendo assistência em cuidados paliativos. Sua doença cardíaca severa o trouxe até o Hospital Metropolitano por meio do Coração Paraibano. Devido a idade avançada e a fragilidade de uma internação prévia já prolongada, o quadro clínico vem em evolução crítica. Mas o foco em cuidar é sempre o nosso objetivo. Ampliamos nosso cuidado para o conforto do paciente, com o controle de sintomas, estar ao lado da família, ofertar momentos de despedidas e valorizar sua biografia: um exímio sanfoneiro. Os cuidados paliativos visam amenizar o sofrimento, em qualquer dimensão. O cuidado da família e a homenagem da filha, ao trazer e tocar a sanfona, validam a importância da trajetória de seu Antônio, até seu último momento”, salientou Ana Carla.
O momento foi apreciado pela esposa do paciente, as filhas, genro e neto, emocionando além da família, os colaboradores e o paciente e acompanhante que dividem a enfermaria com Antonio. O som da sanfona foi muito mais do que só uma música, mas a representação de lembranças e amor.
Para a psicóloga da unidade hospitalar Vaneide Delmiro, momentos como esse têm um valor inestimável para o paciente e a família.
“A música, assim como outros gestos simbólicos, cria uma conexão que vai além da doença. Ela traz conforto emocional, resgata memórias afetivas, e quando a família participa de maneira tão significativa, como a Maria fez ao tocar a sanfona para o pai, estamos testemunhando um cuidado que vai além da medicina: é o cuidado com a história de vida, com os sentimentos e com aquilo que dá sentido até os últimos instantes”, ressaltou a psicóloga.
Comissão de Cuidados Paliativos
Tem como objetivo assegurar um atendimento humanizado e ético, buscando uma melhor qualidade de vida, não só do paciente mas também aos seus familiares, atendendo as necessidades físicas, emocionais, psicológicas, sociais e espirituais. A comissão é integrada por coordenadores e responsáveis técnicos da equipe multidisciplinar do hospital, que atuam nas áreas de: Odontologia, Serviço Social, Medicina, Nutrição, Farmácia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Psicologia e Enfermagem.

